ENGENHARIA REVERSA E CRACKER

Post by R3 | Post in | Postado em 19:11

Antes de tudo, é importante frisar que nem toda atividade cracker tem relação com a engenharia reversa, e nem sempre a engenharia reversa é ligada a atividades crackers. No entanto, ambas tem laços muito estreitos, e usualmente são associadas, já que a grande responsável pela atividade cracker é a engenharia reversa, e a grande aplicação da engenharia reversa é a atividade cracker.
O QUE É ENGENHARIA REVERSA ?
Engenharia Reversa trata-se da descompilação de um sistema (ou de partes deste) para determinar seu funcionamento e copiá-lo ou aperfeiçoá-lo.
Este conceito aplica-se tanto a hardware como a software. No caso de software, a técnica funciona independente da linguagem de programação usada para criá-lo, de modo que pode-se obter informações sobre como o software funciona ou como implementa protocolos, até então secretos.
Diferentemente do que pode-se pensar, esta prática não surgiu com a computação, apenas foi absorvida de outro tipo de indústrias onde ela já existia há decadas. Na industria automobilistica, por exemplo, os fabricantes algumas vezes compram um veículo de outro fabricante para desmontá-lo, examinar suas peças e componentes para aperfeiçoar seus próprios veículos com componentes ou tecnologias similares.
A Engenharia Reversa no caso de hardware, requer um nível muito maior de conhecimento, e é muito mais cara que a de Software. Um fabricante, por exemplo, se quiser saber como o processador do concorrente funciona, pode comprá-lo, fazer a engenharia reversa, e criar um processador similar. Em geral a ER de Hardware utiliza ferramentas eletrônicas de medição, como multímetro, osciloscópio, e um programador de dispositivos.

ATIVIDADE CRACKER
A história do cracking nos remete a própria história do software comercial. No entanto, o cracking efetivamente evoluiu em um grande cenário underground no começo dos anos 80, nos computadores Apple II, Atari 800 e Commodore 64.
Assim como as diversas comunidades digitais (undergrounds ou não), os primeiros hackers envolvidos no software cracking se juntaram em grupos, criando os "Cracking Crews", ou grupos de cracking, normalmente muito ligados a pirataria de softwares comerciais (warez).
Um grupo de cracking era composto de:
* Crackers: programadores que quebravam as proteções dos softwares Muitas vezes os Crackers não eram programadores no sentido completo da palavra, pois não era necessário ser programador para saber quebrar um software – bastava algum conhecimento de assembly, e alguma experiência.
* Suppliers (fornecedores): pessoas que costumavam ter acesso a softwares muitas vezes antes mesmo de seu lançamento, e disponibilizavam estes softwares ao grupo antes mesmo de ele estar disponível comercialmente. Como exemplo, pode-se citar o Microsoft Windows 95 e o Windows 98, softwares que circulavam nos BBS do cenário pirata semanas antes de serem lançados oficialmente em lojas. Isto atraia aos grupos crackers a atenção de pessoas totalmente desinteressadas no software-cracking (como uma arte) em si, que passavam a ver os grupos de cracking como fontes de novidades em jogos ou aplicativos.
* Traders ou Couriers: pessoas que distribuiam os cracks e/ou os softwares crackeados através do mundo o mais rápido possível, na maioria das vezes através de ligações gratuitas (phreaking) para BBS ao redor do mundo, onde enviavam os cracks e softwares de seu grupo.
* Sysops: eram os operadores (SYStem? OPerators?) dos BBS ao redor do mundo que redistribuiam os cracks e softwares.
Normalmente haviam BBS representantes do grupo em cada continente, país, ou região, chamados de Headquarters ("quarteis generais" de redistribuição). 

Os grupos de crackers disputavam entre si pela fama (ego), sempre correndo para serem os primeiros grupos a distribuir os softwares recém lançados com seus respectivos cracks. Haviam também alguns grupos de warez (e BBS comerciais, que cobravam mensalidades dos assinantes) que faziam suas atividades pelo dinheiro, mas eram mais raros.
Conforme explicado acima, o grande impulso da cena cracker foi a distribuição de warez, e a maioria dos BBS envolvidos na cena cracker normalmente eram apenas pólos de pirataria. No entanto, alguns dos BBS se dedicavam ao lado “intelectual” da atividade cracker, se especializando em assuntos como engenharia reversa, criptologia, vírus, phreaking, etc. Haviam inclusive redes de mensagem mundiais (pré-internet) de conteúdo exclusivamente cracker.
Alguns paralelos com a comunidade open-source são evidentes:
* Ambas as atividades se organizam através de comunidades estruturadas e com papéis bem definidos
* Ambas as atividades envolvem um certo grau de ego programming, no sentido de que buscam reconhecimento dos outros da cena.
* Ambas as atividades podem de certa forma ser consideradas “ideologicamente contra o software proprietário”.
* Ambas as atividades tem a maioria de seus contribuidores motivados pelo próprio gosto pela atividade, apesar de haver alguns poucos motivados pelo dinheiro.

SOFTWARE CRACKING COMO PROPULSOR DE OUTRAS COMUNIDADES
Phreaking (phreaking)
Phreaking refere-se a atividade cracker de se burlar as redes telefônicas para se conseguir ligações gratuitas. Surgiu nos Estados Unidos ainda no início do século passado, mas somente ganhou força e de espalhou com o surgimento do cenário dos BBS, do software cracking, e dos grupos de distribuição de warez.
Estes hackers de telefonia (phreakers) utilizavam as ligações gratúitas que sabiam fazer para se divertir navegando em BBS ao redor do mundo, enquanto espalhavam os lançamentos (warez) de seus grupos crackers.
Há diversos tipos de phreaking, sendo que os mais comuns são:
* Bluebox: enganar troncos telefônicos internacionais, ligando em telefones gratuitos (toll-free) localizados em outro país, e emitindo frequencias que enganavam estes troncos para obter controle total sobre eles e poder fazer ligações gratuitas para qualquer país.
* Blackbox: enganar telefones públicos americanos, através da emissão de frequências que simulavam fichas telefônicas.
* PABX: descobrir (através de força bruta) os números e senhas de centrais PABX (hosted PBX) de empresas que disponibilizavam este serviço para que seus funcionários pudessem fazer ligações DDD/DDI de fora do escritório utilizando as linhas da empresa.
A lista de phreakers famosos inclue Steve Wozniak e Steve Jobs (nos anos 70), que alguns anos depois se tornariam os fundadores da Apple.
Demoscene (demoscene)
Com o tempo, os cracks começaram a vir com "crack intros" (introductions), que normalmente eram pequenas introduções (mencionando o grupo criador do crack) antes do crack ser executado, com animações, música, etc. Estas intros deram origem ao que veio a se tornar pouco tempo depois a "demoscene", outro dos muitos cenários underground onde grupos de pessoas se uniam para a criação de demos.

Esta “emancipação” se deu no final dos anos 80, quando a parte legal (e artística) e a parte ilegal do cenário de warez/cracks se separaram. A demoscene foi um dos principais passos para a evolução da arte digital, tendo dado origem (ou impulso) aos músicos digitais, artistas gráficos, competições de demos (demo parties e competitions), etc.
Ironicamente, alguns dos pioneiros da demoscene, que criavam intros para cracks, acabaram devido ao seu conhecimento de programação gráfica indo trabalhar na indústria de jogos.

Hackers de sistemas

Em meados dos anos 90, com o crescimento e popularização da Internet, os BBS perderam sua força e glamour. A partir de então pelo preço da mesma ligação local, era possível navegar pelo mundo todo, e não só dentro de um único BBS.
Esta mudança causou também uma migração dos grupos crackers para a Internet, que viram na rede um novo ninho para seus grupos e para a distribuição de seus softwares.
Esta mudança de ambiente propulsionou o hacking de sistemas (security hacking, ou network hacking), atividade responsável por quebrar acesso à máquinas disponíveis na rede, para poder usufruir de seus recursos. A partir do momento que um hacker conseguia invadir uma máquina com conexão permanente à internet, ele poderia hospedar arquivos, websites, e qualquer outra informação ou serviço que desejasse.
A engenharia reversa tem papel fundamental nesta atividade, em especial no descobrimento de falhas nos softwares, como por exemplo os buffer overflows.

Criadores de Virus

A comunidade dos Criadores de Virus não tem relação direta com o software cracking, mas sim com a engenharia reversa. Desde o começo dos anos 80, diversos experimentos na criação de vírus foram realizados, e com o tempo acabou se desenvolvendo um forte conhecimento sobre técnicas de criação destes vírus.
A área tem grande relação com a criptografia (visto que os vírus atuais costumam utilizar criptografia para dificultar sua detecção através do chamado polimorfismo) e com a engenharia reversa (visto que utiliza-se de informações sobre os formatos dos executáveis para a criação de um código-infector).
A comunidade da virologia, assim como a de software cracking, é responsável por diversos e-zines (eletronic magazines), abordando conteúdos como virologia, criptologia, polimorfismo, detecção de vírus, infecção de executáveis de Windows/DOS/Linux, entrevistas com os gurus da área, etc.
A QUEBRA DE PROTEÇÃO ANTI-COPIAS
A quebra de proteções (quase sempre proteções anti-cópias), conhecida também como "Software Cracking", talvez seja o aspecto mais conhecido da engenharia reversa. Trata-se da modificação (ilegal, pois infringe copyrights) de um software, para remover a proteção anti-cópias, permitindo que o software seja utilizado sem a posse de uma licensa. O cracking normalmente (mas nem sempre) é feito através da engenharia reversa.
Dois exemplos de cracking seriam modificar um jogo para que este possa ser jogado sem a necessidade de se possuir o CD original no drive, ou modificar um software cuja licença foi gerada baseada nas configurações de determinado hardware, permitindo que este seja executado em outras máquinas (ou mesmo permitindo que a máquina seja alterada, em caso de falha de hardware).

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